terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Como surgiu o Projeto Ensinar a Aprender


Entrevistada: Conceição Amorim
Idealizadora do Projeto Ensinar a Aprender. Pedagoga. Especialista em Psicopedagogia. Coordenadora Geral do Colégio Santa Isabel.



O Projeto Ensinar a Aprender surgiu no Colégio Santa Isabel com o propósito de ser um facilitador para alunos que apresentam limitações no aprendizado. A senhora poderia nos falar em que momento surgiu essa proposta? 
Como acontece em muitas escolas, identificamos na Santa Isabel, alunos que aprendem com facilidade e outros que apresentam limitações e demoram mais para aprender. Alguns precisam de mais orientação e de mais acompanhamento para que consigam se sair bem. Ao final do ano fica mais evidente essa divisão, pois sempre nos deparamos com alunos que só conseguem seguir para próxima série após o processo de recuperação e outros que nem conseguem passar diante das dificuldades que apresentam. Com o passar dos anos identificamos que são sempre os mesmos alunos, que alguns se esforçam bastante, mas não conseguem superar as dificuldades que apresentam.
Essa problemática sempre me inquietou, me angustiava verificar que os mesmos alunos eram aprovados com dificuldade ou reprovados ano após ano, me sentia incompetente enquanto escola por não conseguir ajudá-los a superarem suas dificuldades.

A partir dessa identificação, quais foram as primeiras iniciativas e metodologias pensadas pela Coordenação Pedagógica, como escola? 
Comecei a olhar com mais atenção e carinho para cada um deles e fui identificando a necessidade de trabalhar com eles a base da aprendizagem, percebi que a questão não podia se centrar apenas no contéudo, mas em desenvolver ferramentas básicas para que ele possa chegar à compreensão do conteúdo: a atenção, a concentração, a leitura, a interpretação, o raciocínio lógico e a descoberta das estratégias de estudo próprias de cada um.

Sabemos que é muito importante também depositar confiança na capacidade dos alunos. É nisso que se baseia esse olhar mais atento?
Acredito que todos podem aprender de alguma forma e em algum momento, alguns são mais rápidos e outros demoram mais, mas todos aprendem e os envolvidos nesse processo (alunos, pais e professores) tem que acreditar nisso, não podemos perder a esperança ao ensinar ou ao aprender. Compreendo que não é fácil entender o que se passa com essas crianças e jovens que aprendem num ritmo diferente da maioria, talvez para mim seja mais fácil porque me identifico um pouco com esses alunos, pois quando estava na escola apresentava muitas das dificuldades que hoje percebo neles e que me são relatadas pelos professores e pais.

Conceição, e após fundamentar tudo isso que a senhora nos falou, qual foi o processo para então concretizar o Projeto Ensinar a Aprender? 
A base do projeto foi pensada e estruturada em 2010 e era intenção iniciar em 2011, mas faltavam as pessoas certas para assumirem o cuidado com esses alunos, pois não seria fácil colocar em uma mesma sala um grupo de alunos que apresentam características tão diversificadas e comportamentos tão desafiantes. A princípio pensei em colocar pessoas diferentes de acordo com a área (Linguagem, Matemática, Psicomotricidade etc.), depois verifiquei que o ideal era uma única pessoa que tivesse uma visão geral e que trabalhasse todas as áreas. E a pessoa que ficaria à frente do trabalho com os alunos teria que ter a competência pedagógica, mas também ser uma pesquisadora com paixão pelo educar, com vontade de fazer mais e com muita sensibilidade de perceber cada aluno como um ser de muitas possibilidades. Ao final de 2011 identifiquei dentro do nosso grupo de educadores alguém que se encaixava nesse perfil e que aceitou o desafio de participar do projeto piloto em 2012, a Professora e Psicopedagoga Vládia Lopes.

Nós falamos sobre a importância de trabalhar a aprendizagem a partir de ferramentas básicas, como interpretação e raciocínio lógico, e não apenas centrar diretamente o estudo do conteúdo. Além desse aspecto, há outros pontos fundamentais para se obter resultados satisfatórios? 
O projeto não envolveu apenas o trabalho com os alunos, mas também com os pais e professores que necessitam de orientação sobre como ajudar seus filhos/alunos a superar suas dificuldades. Ao longo de todos esses anos na coordenação, sempre recebi pais e professores que demonstravam uma certa angústia por não conseguir ajudar seus filhos ou alunos por mais que usem de estratégias diferenciadas para fazê-los compreender o conteúdo trabalhado e me pediam orientações. O que faço no projeto é a ampliação dessa conversa que sempre aconteceu na minha sala para o auditório da escola, onde se encontram os pais que tem o mesmo anseio e que precisam de ajuda para compreender o que acontece com o seu filho e como ele pode ajudá-lo a superar esse desafio que é o seu processo de aprendizagem.

Percebemos que é evidente a parceria e o trabalho da escola junto com a família. Deve ser motivador para ambas as partes acompanhar e ver o crescimento dos alunos/filhos envolvidos. No final de 2012, como ficaram as expectativas?
Tem sido gratificante não apenas para mim e para a professora Vládia, mas para todos que trabalharam com esses alunos, perceber o crescimento deles. É importante deixar claro que não estamos falando de melhoria em notas e conteúdo, mas em posturas de modo geral. Os pais nos procuram dizendo que os filhos ainda não melhoraram as notas, mas já se organizam para estudar, já conseguem ficar sentados atentos e interessados nos estudos. Professores também percebem uma atenção maior na aula, na melhoria da interpretação do que é lido, uma coerência maior no que escreve. Claro que também temos alunos que melhoraram inclusive nas notas de determinadas disciplinas e que já reduziu o número de disciplinas em que normalmente ficavam em recuperação. É um processo lento, mas muito bonito de acompanhar, de participar. E em 2013 estamos com mais ideias para melhorar o projeto.

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